segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


PRÊMIO ARTE  NA ESCOLA CIDADÃ

PROJETO DE ARTE NA   

ESCOLA ESTADUAL PROF.JOSÉ CARLOS DIAS

Casa Verde – São Paulo / SP

SILVIA MHARQUES

PROCESSO DE CONCEPÇÃO

CONCEPÇÃO: Ação pela qual um ser é concebido, gerado.

Fig. Faculdade de compreender: ter a concepção fácil.

Conhecimento; ideia, opinião: uma concepção original da vida.

 Minha motivação está alicerçada na crença  de poder e vontade como arte.

( Nietzsche)


Esta ação na Escola foi concebida no processo das  minhas três exposições anteriores. Duas coletivas e uma individual.  Explico. Em 2009, a convite do atelier do centro do artista Rubens Espirito Santo, elaboramos um projeto para exposição GESAMTKUNSTWERK – (obra de arte total) e enviamos para o ProAc – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo – PAC 16- Programa de Ação Cultural 16 e fomos contemplados. A exposição durou dois meses e houve muitas vivencias dentro do espaço expositivo no centro de São Paulo. Nesta exposição, surgiu a obra Bio -  instalação sonora.

Nesta obra questões sobre potência e tensão  dos  materiais, a vida em questão, a depredação ao meio ambiente, a obra a serviço do pensamento, da tensão do sujeito artista, questionadora, estranha, se opondo ao lugar do conforto a zona de conforto, questionando o espaço, o oxigênio, o gênero feminino no fazer   da arte. O rigor do artista perante a sua sociedade, perante o mundo.  Desejo do impossível como desafio para realização. As crianças que visitaram  essa exposição ficavam vidradas com esta obra. Elas diziam que era uma coisa estranha, mas que gostavam de olhar, ouvir o som, esperar o peixe aparecer e não entendiam  as plantas dentro da geladeira. Faziam muitas perguntas. Uma obra inquieta, desassossegada, vibrante.
                                                                                                                                                                                                                              Materiais utilizados nesta obra: geladeira antiga, terra preta, mudas de arvores em extinção, saco plástico, agua, bombas de oxigênio, dois pacus ( peixe de rio), amplificador de som plugado no soco plástico, ampliando o som das bolhas de oxigênio e os sons que os peixes faziam às tocas no saco plástico.


 Após esta  exposição, o Artista Rubens Espirito Santo me convida para fazer uma exposição individual em seu espaço expositivo no Atelier do Centro, São Paulo.


Em agosto do mesmo ano reservo o espaço para fazer uma obra ambiente e durante dois meses passo a morar no espaço para conviver com o fluxo de pessoas que habita o atelier, alunos de Rubens, filhos dos alunos, meus alunos ( neste período eu dava aula de arte na E.E. Caetano de Campos- Praça Rooseveld- Centro). O ambiente foi se transformando até a abertura da exposição.


Durante um mês, desenhos, pinturas, escrita sobre a vivencia com os artistas, com as crianças e os adolescentes.


Criança pede para  fazer uma maquete  e fala sobre o que ela gostaria de expor. A maquete era a representação do próprio espaço.

No segundo mês o ambiente se transforma, sendo ele mesmo. A instalação de parede tem como fruto um mês de produção em desenhos e pinturas. Fazem parte da obra os encontros nas rodas de discussões acerca da arte e da educação, do papel do artista e do professor para a sociedade.


Em outubro de 2009, Ricardo Resende, então diretor do Centro de Artes Visuais    FUNARTE com Esther Góes, coordenadora da FUNARTE São Paulo, visitam o atelier do centro, como forma de mapeamento dos ateliês  do entorno da FUNARTE e surge um convite para expormos  na 2ª. Edição de Entorno de nos Limites da arte. Lá, na galeria Mário Schenberg, ficamos três meses numa vivencia com 30 pessoas fixas entre artistas e arte educadores. Entre outras obras que produzi lá, tanto na ambientação do espaço como em objetos sonoros desenhos,  ações. Cito aqui a obra OXIGENE.

Esta é uma obra desdobrada da bio-instalação sonora. São duas geladeiras, com sacos plasticos contento em sua tensão máxima água e as bombas de oxigenio. Nas cores azul e rosa elas reproduzem, através dos amplificadores, os sons das bolhas de oxigenio.

Sendo assim, a concepção OXIGENE +  AMBIENTE teve esta trajetória antes de se dar na Instituição educacinal publica.

OXIGENE +  AMBIENTE = ESCOLA ESTADUAL PROF. JOSÉ CARLOS DIAS


Minha atenção estava voltada para a observação do impacto que um ambiente ( já vivido nas obras anteriores) diferente daquele rotineiro, ( no caso sala de aula com lousa fixa, cadeiras enfileiradas, o olhar somente em um sentido, na mesma direção) causaria no aluno e que eles, através desse olhar comportamental fizesse uso desse ambiente e observasse em sua volta, que o mundo vive em constante transformação, pois, o homem, ao se transformar permite-se a experimentar novas possibilidades, tornando-se assim livre de todo conceito imposto.

Paulo Freire, conceituado educador fala da visão de mundo e a construção do conhecimento, através do contato com o objeto, a troca e a interlocução  entre objeto e aprendiz, proporciona a apropriação  do conhecimento.  Para Freire, a aprendizagem veraz quando o individuo se torna critico e autônomo, isto ‘e, ele reflete sobre a situações que o cercam e, partindo de suas reflexão, ‘e capaz ‘e capaz de tomar decisões como agente de mudança de sua realidade, no contato em que est’a inserido.  Da mesma forma na arte, o individuo deve perceber-se parte atuante e participante dela, já que a arte ve a vida, imitando-a, pois o artista a representa em sua  diversidade criativa, registrando a vida e seus contextos temporais, políticos, sociais, culturais. Arte também e a cultura e ‘e construída ao longo da vida, porem não se encerra com ela.  

Nesse ambiente diferente, acolhedor, intrigante, inquieto, realizei minhas aulas fazendo com que os alunos construíssem suas opiniões, se sentindo indivíduos participantes de uma unidade, de uma sociedade, de um mundo onde se percebessem atuantes, compromissados e desejosos. A concepção para este trabalho é a continuação do meu pensamento e daquilo que eu acredito como educadora e como artista, responsabilidade social.  Agambem, citado por Christiane Greiner em O corpo em crise, me estimulou na realização  desta empreitada quando diz “ O problema hoje, explica Agambem, é que todo  dispositivo envolve um processo de subjetivação  sem o qual ele não funciona como dispositivo de governo, mas apenas como exercício de violência. Na fase atual do capitalismo, os dispositivos agem menos como produtores de sujeitos e mais como acionadores de dessubjetivação. A criação de corpos dóceis que Foucaut havia identificado transforma-se cada vez na construção de corpos inertes. Estes são os cidadãos que executam tudo que mandam, deixando-se controlar em todas instancias-  dos gestos cotidianos a saúde, divertimento e alimentação”.


O tema surgiu no primeiro semestre quando, ao apresentar para as crianças artistas como Bispo do Rosário, Ligia Clark, Hélio Oiticica, Rebecca Horn, Picasso, Jasper Jons, Robert Rrauschemberg, Jessica Stokholder,  Os Gêmeos, Silvia Mharques e Rubens Espirito Santo e outros. As crianças desejosas do fazer, tomadas pelos pensamentos dos artistas, queriam muito executar a experiência de fazer uma obra com um artista, colocar a mão na massa. Com tanto desejo, conseguimos uma sala (desativada, com sucatas) e a autorização para usarmos outro espaço (também desativado) ao ar livre.


DESENVOLVIMETO


Primeiro semestre_____________________________________________________

Músicas

Carnavália. Composição: Carlinhos Brown, Marisa Monte E Arnaldo Antunes. Assistiram o vídeo do clip. Explicação sobre o que é compor uma musica, letra e melodia, ensaio, instrumentos musicais utilizados, ensaio impostação da voz. Apresentação no pátio com todas as crianças do período.

Vem pra minha ala que hoje a nossa escola

Vai desfilar

Vem fazer história que hoje é dia de glória

Neste lugar

Vem comemorar, escandalizar ninguém

Vem me namorar vou te namorar também

Vamos pra avenida, desfilar a vida, carnavalizar


Na Portela tem, Mocidade, Imperatriz

No Império tem, uma vila tão feliz

Beija Flor, meu bem, a porta-bandeira

Na Mangueira tem morena da Tradição


Sinto a batucada se aproximar

Estou ensaiado para te tocar


Repique tocou, o surdo escutou

E o meu coração (tamborim)

Cuíca gemeu

Será que era eu

Quando ela passou por mim

Lá lá lá...


O gato da Madame (Armando Nunes, Carim Mussi) e Edmundo (Joe Garland, Andy Razaf, versão Aluisio de Oliveira) , do álbum Crooner.

Aqui exploramos, a letra , o humor de ambas, o surrealismo, dança individual, dança em par, dança em roda. Desenho  e confecção das maquetes referente ao assunto das letras.


·         Anexo a apostila com o  conteúdo das aulas de música

Teatro

Teatro de bonecos articulados, mamulengos, teatro de sombras, fantoche. Presentação em vídeo dos bonecos, do teatro. Exercício: em grupo as crianças escolheram uma das modalidades e apresentarão para a classe o seu teatro. Confecção dos bonecos, criação dos mesmos. Criar uma história ou fazer o personagem paras histórias que eles escolhessem, já conhecidas.

          Anexo a apostila com o  conteúdo das aulas de teatro.

Desenho

          Anexo a apostila com o  conteúdo das aulas de desenho.

Pintura:

Miro, Picasso, Jasper Johnson, Robert Rauschenberg, Rebecca Rorn, Jessica Stockholder. Esses artistas , na historia da arte fizeram a diferença, as passagens da pintura no quesito abordado de transformações de suporte e materiais. Aqui , o foco principal é que as crianças entendam que a pintura se desloca do tradicional suporte e materialidade. Houve atividades de pintura com tinta sobre suporte papel e também pintura com objetos tanto na parede quanto no espaço.

Segundo semestre_______________________________________________


Espaço ambiente- 1ª. Obra:  agosto a dezembro

Pensar o espaço da sala, arrumando-a juntos. Onde estaria o que e para que. Nessa etapa da arrumação, começa um sentimento de apropriação do espaço, sendo este transformado em um ambiente construído pelas próprias crianças. Uma instalação ambiente construída por todos. As crianças adoraram sentar nos tapetes, a sensação de sair do lugar comum as deixava mais potentes. Outro registro de espaço, outra ação no corpo. Algumas gostam de ouvir a aula em pé. Algumas disputam as três cadeiras de diretor e o banco de rodinhas, tento que saber negociar com os colegas. Na sala ambiente, que foi batizada por eles de beco feliz, desenvolvemos atividades de teatro, artes plásticas, música, dança projeção de vídeos de obras de artistas, e da própria produção dos alunos, onde eu disponibilizei minha câmera fotográfica e minha filmadora para as crianças desenvolverem atividades de imagem, tanto de  fotografia quanto de vídeo. No Beco feliz realizávamos encontros no recreio e na hora da entrada. Fizemos exposições de pintura, desenho, modelagem. Ensinei as crianças a fotografarem suas modelagens com fundo infinito. Houve exposição de cadernos de artistas, para eles terem contato com o registro diário utilizado pelos artistas para ajudarem a pensar a obra, a relação da obra com a vida, com as pessoas. As fotos e os vídeos mostraram um pouco desta sala ambiente.


Oxigene / Zecão - 2ª obra: outubro a dezembro

Primeira etapa para a execução dessa atividade foi falar sobre a obra, e mostra-la novamente, pois ela tinha sido mostrada as crianças no  inicio do ano.  Eles ficaram eufóricos com a possibilidade de criarem outra instalação envolvendo o espaço, só que  com materiais diferentes e no espaço aberto da escola, externo a sala.

A espera das geladeiras.  Nesta etapa as crianças tiveram como tarefa explicar a obra para a família e se possível conseguir uma geladeira velha. Eles chegavam eufóricos nas aulas e cheios de perguntas. Conseguimos  as geladeira no ferro velho que fica perto da escola. Algumas crianças conseguiram geladeiras velhas, porém não havia como as trazes.  Bem, chegou o dia da chegada das geladeiras. Primeira tarefa. Olhar  o material  e olhar o espaço. Relacionar os dois. Onde será montada a obra?  As crianças começaram a desenhar o espaço e a disposição das geladeiras, justificando as escolhas.  Depois desenhar em planta baixa como cada grupo pensa em colocar as geladeiras e por quê? Nessa etapa, os desenhos das plantas, ou seja, o pensamento dos grupos foi exposto na sala ambiente para que todos pudessem olha-los, socializando o pensamento e instigando os grupos a trabalharem com dedicação, pois eles queriam vencer. Foi uma etapa difícil. Escolhemos o que a maioria desejou com o consentimento de outros grupos. As geladeiras ocuparam o espaço de área verde da escola, onde o chão era de terra. Em grupos, fomos arrumando o espaço.  Havia um lago cheio de terra que fomos cavando até tirarmos toda terra. Rastelamos o chão, tiramos sacos de  materiais  não compatíveis com o lugar ( garrafas pet, sacos de plástico, tampinhas, pedaços de cadeiras, etc. ) Separamos o lixo orgânico do inorgânico, falamos sobre essa diferença, a necessidades da reciclagem, a importância dela. Os encontros passaram a ser realizados no espaço da obra Oxigene. Primeiro artista apresentado nesse contexto foram os do Arte Povera (significando Arte desvencilhada com criticas do capital e do mercado) foi um movimento artístico italiano que se desenvolveu na segunda metade da década de 60. Seus adeptos usavam materiais de pintura não convencionais (ex.: terra, madeira e trapos). Como exercício, as crianças utilizaram os materiais do espaço para criarem suas obras em grupos. Foi lindo! Outro artista apresentado foi um artista alemão, Joseph Beuys que produziu em vários meios e técnicas, incluindo escultura, desempenho, vídeo e instalação. As crianças se identificaram com a obra Cadeira com Gordura. Sobre essa obra há vários relatos das crianças.  Beuys  é considerado um dos mais influentes artistas europeus da segunda metade do século XX. Eles construíram uma cadeira com folhas ( no lugar da banha), fiquei surpresa, chorei. Depois foi a vez do artista e pensador brasileiro, Rubens Espírito Santo, as crianças se identificaram com as cabanas construídas pelo artista, a semelhança da cabana com o espaço da sala, ambientado por eles, se identificaram com as cores e a liberdade com que o artista cria suas obras.  Como tarefa, as crianças tinham que criar uma cabana coletiva. Muita dificuldade e brigas. Sentávamos para conversar sobre as questões de impedimento, pois no inicio a cabana era erguida e logo após caia, não conseguindo ficar e pé. Potencia da obra, potencia dos matérias, errar para aprender, brigar para serem amigos, falar o que sentem e pensam com delicadeza e educação. Falar com o amigo olhando no olho dele,  falar e saber ouvir. Escutar  o que o outro esta dizendo. Não ter medo de errar, ó se cria fazendo, errando para acertar. E assim, nossas aulas eram edificadas com muita conversa e pensamento. Havia choro, brigas, sorrisos e alegria. Foi muito bonito de ver.


Estratégias educativas

Através das atividades as crianças tiveram que enfrentar muitos problemas tanto no embate com os materiais, como nos relacionamentos. A estratégia é utilizar as quatro linguagens artísticas para que as crianças se deparassem com elas mesmas no relacionamento com o outo. Como enfrentar os problemas, resolvê-los e lidar com as frustrações. A educação é para o ser que está se desenvolvendo, não subestimando sua capacidade imaginativa para apontar soluções.

A escuta foi uma questão abordada cotidianamente.

Implantamos regras de convivência claras e o seu cumprimento sempre foi exigido e cumprido por eles e por mim.

Listas de verificação das atividades, nomes dos artistas apresentados, para que o aluno se organize e tenha um exercício de memória.

Para obter atenção dos alunos: Chamar a atenção através do tom de voz, gestos visuais ou determinados objetos como: sino, gaita, violino.

No contato visual, sempre havia um novo objeto na sala, trazido por mim, ou por eles.

A sala ambiente também era nossa galeria, nosso espaço expositivo. Uma vez por mês, fazíamos exposições de trabalhos, tirando moveis dos lugares, inventando novas possibilidades para o espaço.

Produções dos alunos

Houve uma enorme produção nas quatro áreas da expressão artística: artes plásticas   ( pintura, desenho, escultura, desempenho, fotografia e vídeo) dançam, musica e teatro.

Na pintura, iniciei o conhecimento partindo dos suportes clássicos como papel e tela, seguindo, com a apresentação de artistas tais como Picasso e sua trajetória, Robert Rauschenberg que leva a colagem as ultimas consequências  como pintura e a artista e educadora Jéssica Stockholder que nos mostra a pintura expandida. A apresentação desses artistas foi importante para as crianças entenderem que pintura não é somente tinta no papel.

No desenho prossegui com o pensamento da pintura. Elas produziram desenhos de observação – Leonardo Da Vinci - desenho como importância do registro – desenhos rupestres – Produziram desenhos, pautando o conhecimento sobre linhas, espaços, sombras etc. Com a apresentação dos desenhos dos artistas: Joseph Beuys, Rebecca Horn, Matthew Barney, Richard Long , o desenho sai do suporte convencional e atinge outras dimensões. A produção foi intensa e foi bonito de ver as crianças resolvendo seus problemas na produção, participando dos problemas dos colegas e os ajudando com suas ideias. Havia muita discussão na produção de montagem, sempre era lançado um problema para eles resolverem. Exemplo: fazer uma máscara com papel sem usar tesoura e barbante, pintar sem tinta, somente com pequenos objetos colecionados numa enorme caixa de isopor. Sempre havia exposição das produções.

Eleição das expectativas de aprendizagem e avaliação do processo

A liberdade no processo artístico, assim como fazem em suas brincadeiras, foi ganhando espaço e confiança, apresentando nas produções um aprimoramento criativo. As crianças são pesquisadoras por natureza, mergulharam em suas produções com potência e vontade de descobrimentos, o espaço ambientando, com atmosfera de liberdade criativa e , comunicativa, fortaleceu o processo de aprendizagem, pois tudo que fazíamos escrevíamos e era fixado na parede, sempre retornando as aulas anteriores para prosseguir. O espaço era sagrado, eles respeitavam o lugar pois se apropriaram dele, tinham suas responsabilidades e deveres para com ele. O espaço livre e a ausência de limitações são requisitos fundamentais para a permissão do experimento e do fazer em arte.

A avaliação final dos trabalhos produzidos pelas crianças é uma invenção dos adultos. O que acontece nas experiências estéticas é mais amplo. A compreensão se dá por meio dos sentidos, ampliando a consciência. A avaliação está na dedicação e concentração dos processos assistidos e orientados pelo professor. A dificuldade no fazer e no compreender é operada nas relações entre todos os participantes.

Quanto ao processo de aprendizagem dos alunos, valorização de sua participação em momentos de discussão, tomadas de decisão. Descrevo os instrumentos de avaliação e os procedimentos utilizados em todas as etapas do projeto.

Percebo que o espaço ambientado foi fundamental para propiciar o aprendizado. No processo de aprendizagem foi determinantemente a minha presença dinâmica e humorada para transmitir os conhecimentos que permitam o fluxo das atividades e do conhecimento. Nas discussões, todos falavam na sua vez, um trabalho e tanto, pois sabemos que eles adoram falar e não ouvir. Minha participação foi enérgica e amorosa, sempre para conseguir lidar com as diferenças e humores. Quanto às decisões, eram tomadas em conjunto e quando alguém errava, era explicitado, pois aprenderam que é errando que se aprende, que só erra quem esta tentando acertar.

O instrumento de avaliação das etapas do projeto:

A avaliação sempre foi feita no processo, no dia a dia dos encontros. Os instrumentos de avaliação foram à percepção e atenção para os comportamentos das crianças

Segundo Canen (2001), Gandin (1995) e Luckesi (1996), a avaliação é um julgamento sobre uma realidade concreta ou sobre uma prática, à luz de critérios claros, estabelecidos prévia ou concomitantemente, para tomada de decisão. Desse modo, três elementos se fazem presentes no ato de avaliar: a realidade ou prática julgada, os padrões de referência, que dão origem aos critérios de julgamento, e o juízo de valor.

Como foi dito, a avaliação não é um processo apenas técnico, é um procedimento que inclui opções, escolhas, ideologias, crenças, percepções, posições políticas e representações, que informam os critérios através dos quais será julgada uma realidade. A avaliação do aproveitamento de alunos, baseia-se em critérios que visem ao crescimento pessoal dos alunos, no que diz respeito as suas atitudes, liderança, conscientização crítica e cidadã. Esses critérios se originam de opiniões acerca do que se entende por educação, e vão direcionar o julgamento de valor acerca do desempenho daqueles alunos.

Houve adequação dos temas transversais como Ética, Meio ambiente, Saúde, Pluralidade cultural e Orientação sexual, sem perder o foco da Arte como área de conhecimento

Essa adequação tem como objetivo formar um indivíduo consciente de seus deveres e direitos dentro de uma sociedade. Exibir e falar de arte, estar fazendo arte, ocupar o interior dela e não seu estereótipo. A ética aqui está em deixar de ver a arte como algo externo a nós, como coisa de fora para privilegiados e transformá-la em coisa para todos. Arte como Materialização do pensamento e do sentimento.

Pensar arte de maneira ampla, informá-la de outras qualidades, deixa-la se mostrar com a responsabilidade de seus direitos e seus deveres perante a si mesma, o outro, sua comunidade e seu país. A responsabilidade perante sua ação seja ela em apresentar um desenho, uma pintura, a dança, etc. Cumprir com todas as etapas: pensar, fazer, apresentar, ouvir critica e sugestões, se colocar, defender seu pensamento, assumir se houve erro, falar sobre o erro, refizer, acertar pra si. Saúde emocional, ver o outro, colocar-se no lugar dele, ouvir, falar, pensar, falar seu pensamento, ter uma opinião, poder mudar de opinião, repensar. Meio ambiente ligado ao espaço físico da escola, das salas de aula, a arquitetura da escola, de suas casas, luz e ar são necessários, os espaços que habitam, reconhece-los, alterá-los. A importância da reciclagem, as geladeiras e os objetos, materiais utilizados nas atividades, na sala e fora dela. A convivência e a observação das árvores no espaço da obra oxigenem. A importância das árvores. Os relacionamentos entre eles, as diferenças dos gêneros, das cores. Obras de artistas homens, de artistas mulheres, de artistas negros, de artistas orientais e de artistas ocidentais. O que eles pensam?, Como eles retratam seus país? Ex. Franz Krajcberg. O artista Matthew Barney, como referencia de saúde física, utilizando a força e resistência  de seu corpo para fazer desenhos em camas elásticas e dependurado num barco, segurando-se com seus braços. Maarina Abramovic, na performance do MoMa. Performance  minha que fiz na FUNARTE SP – café da manhã, com desenho.

 “A educação em arte, propicia o desenvolvimento do pensamento artístico que caracteriza um modo particular de dar sentido às experiências das pessoas: por meio dele, o aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação. Aprender arte envolve, basicamente, fazer trabalhos artísticos, apreciar e refletir sobre eles. Envolve, também, conhecer, apreciar e refletir sobre as formas da natureza e sobre as produções artísticas individuais e coletivas de distintas culturas e épocas.”

“Conhecendo a arte de outras culturas, o aluno poderá compreender a relatividade dos valores que estão enraizados nos seus modos de pensar e agir, que pode criar um campo de sentido para a valorização do que lhe é próprio e favorecer abertura à riqueza e à diversidade da imaginação humana. Além disso, torna-se capaz de perceber sua realidade cotidiana mais vivamente, reconhecendo objetos e formas que estão à sua volta, no exercício de uma observação crítica do que existe na sua cultura, podendo criar condições para uma qualidade de vida melhor.”

Trechos destacados dos PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS.

Houve coerência e superação, nesse projeto, pois a sala ambientada, os materiais e a própria obra feita em conjunto cm as crianças, escapa dos textos descritos no documento, visto que há limitações de espaço, adequação de sala e diversidade de matérias.

Houve consistência nas estratégias de ensino. A consistência está na qualidade da escolha dos artistas apresentados, na qualidade da formação do professor , que se arrisca em fazer diferente, fazer o novo, fazer sem repetir, fazer apostando, com vontade de fazer, onde a pratica  do ensino da arte  nas  instituições publica, faz parte do trabalho como educadora e do assunto como artista. A consistência está na vontade de realização, na dedicação das escolhas dos materiais a serem apresentados para os alunos, no humor, na alegria e no afeto do trato com as crianças. Os indicadores foram estabelecidos no olhar, no cumprimento diário de cada aluno, na forma clara e objetiva da explicação, nas constantes atuações de perguntas, habituando as crianças a darem respostas, a se colocarem perante o grupo, perante ela mesma. Sim, as estratégias utilizadas favoreceram em 80% a realização dos objetivos propostos, os 20% ficaram por conta de alguns imprevistos de impossibilidade de material e mão de obra.

Há evidencias de aquisição de novos conhecimentos do professor, aprendo muito no convívio com as crianças, elas são livres para criar, e se estimuladas, livres para falar, para agir ( dentro da proposta, claro), a imaginação ganha força e é trazido um universo rico de possibilidades para a criação, elas apresentam soluções para os problemas sem a menor timidez.

Houve conformidade com o Projeto Político-Pedagógico da Escola, envolvimento com a comunidade do entorno, valorizando trabalhos colaborativos e em parceria, sugerindo o reconhecimento dos direitos e deveres cidadãos dos alunos

 A escola permitiu a utilização dos espaços e a permissão dos materiais trazidos pela professora e pelos alunos. A família que comercializa ferro velho e que fica perto da escola esteve presente na entrega das mesmas onde algumas crianças explicaram o projeto. No final , na retirada das geladeiras, eles ouviram algumas crianças contarem sobre o processo.

Houve a valorização do  “Protagonismo juvenil” entendido por Antônio Carlos Gomes da Costa como a participação das crianças em atividade que extrapolam os âmbitos de seus interesses individuais e familiares e que podem ter como espaço a escola, os diversos âmbitos da vida comunitária” (Costa, 1996:90) Explico: nas atividades, houveram  muitas rodas de conversas, conversas que surgiam das crianças. Criei um hábito de fazer perguntas, ora ligada ao conhecimento apresentado, ora sobre suas dificuldades nas atividades, ora sobre o que elas gostariam de perguntar, qualquer pergunta. Sobre essa pergunta “livre”, o assunto em pauta era a família, os pais, as dificuldades nos relacionamentos. Essa foi uma estratégia para conseguir trazer para o grupo, questões individuais onde todos participavam, sugerindo atitudes, se identificando com os problemas e fazendo ligações com as praticas do fazer, exemplo: a dificuldade de erguer a cabana e a vitória em coloca-la em pé e firme para as brincadeiras.

Um dos objetivos de toda essa dinâmica de ação é trabalhar de forma que a criança seja autônoma, que consiga elaborar seu pensamento e expressá-lo. O fato de participarem de uma obra na escola, gerou participação das famílias pois as minhas solicitações requereram perguntas das crianças para os pais , irmão, avós. As atividades exigiam que as crianças tomassem iniciativas, para poderem participar, usar o material coletivo. Na obra OXIGENE / Zecão, as crianças, ora em grupos, ora individualmente, tinham que apresentar uma ideia para obra e meu papel era somente de orientar questões técnicas às vezes. Ideia, execução e avaliação feitas por eles. Eram estimulados a uma reflexão crítica sobre o comportamento e a execução da atividade e da obra .

É importante que sejamos bons em tomar iniciativas, inventar, ter coragem, energia e ter a mente aberta para experimentar, investigar e estar no desconhecido. O Espaço- Ambientado e a obra OXIGENE/ Zecão, Foi um período onde desenvolvemos o senso artístico, a compreensão da arte penetrando nela, as crianças foram se tornando cada vez mais confiantes e alegres.

A Escola Estadual Prof. José Carlos Dias fica no bairro da Casa Verde, é um bairro de trabalhadores de classe média, são pessoas esforçadas , não se trata de um bairro rico, porém há uma dignidade e os pais desejam e se esforçam para dar o melhor para seus filhos. Porem há limitações econômicas e culturais.

Os espaços conquistados, os tapetes, as almofadas, as cadeiras de madeira, a cômoda, as perucas, os vestidos e ternos, os colares, as bonecas, as varias caixas de madeira, o secador de cabelo azul da dec. De 60, massinha, madeiras, papeis, tintas e pinceis, papelão, fita adesiva colorida, cola, sinos, teclados de piano, livros , computador, projetor de multimídia, filmadora e maquina fotográfica, flip shart, e outros. Esses materiais designo como didáticos, pois sua função foi:

1- Motivar e despertar o interesse dos participantes;

2- Favorecer o desenvolvimento da capacidade de observação;

3- Aproximar o participante da realidade;

4- Visualizar ou concretizar os conteúdos da aprendizagem;

5- Oferecer informações e dados;

6- Permitir a fixação da aprendizagem;

7- Ilustrar noções mais abstratas;

8- Desenvolver a experimentação concreta.

9- criar expectativas e vontade de voltar para a próxima aula.

Houve o apoio da direção da escola para o meu  trabalho,  houve também interação com outros professores e suas áreas de conhecimento.  Interação com várias áreas de conhecimento. História, português, matemática, ciências e tecnologia.

Finalização

Bem, aqui cabe dizer que deixou saudades. Cabe dizer que quando um trabalho se debruça na vontade de fazer, tudo flui.

Nossos encontros ( aulas) eram um eterno amanhecer, sempre com o frescor da manhã em nossos rostos. Escrever esta finalização continua com a fisionomia do amanhecer. Esse projeto teve como foco formar e informar as crianças a cerca da arte contemporânea, sua origem. Questões sobre a formalidade da obra, porque ela se alterou? De onde veio a pintura da Jessica Stokhourder, por exemplo ou os desenhos de Richard Long.

Sensibilizar através das obras para levantar questionamentos. Por que atores atuam no rio Tietê e não dentro do teatro?

Estimular as crianças a pensarem por si próprias, problematizar.

Falar sobre o que pensa, dar opinião obre as obras. Falar se gosta ou não e por que.

Exercitar  e saber que devem ser críticos, fazer frente aos desafios, descobrir, ser curioso, inventar, propor questões , serem ativos e autônomos.

A educação envolve processos criativos, invenções para criar um canal de comunicação entre os alunos e a arte.

Penso a arte educação com uma experiência coletiva, levando-nos  através de elos criados, uniões, relações de sensibilização e vontade de fazer.

Este projeto direcionou os alunos para verem vários artistas, varias obras, ampliando seu campo de referencia, não somente em relação a arte mas também a outros campos de expressão a que eles estão  submetidos cotidianamente.

Criei possibilidades de vivencias estéticas, experiências estéticas.

Quando assumi essas aulas, em fevereiro de 2010 para crianças tão pequenas, (embora minha formação primeira foi no magistério e eu trabalhei 7 anos com os pequenos em pré - alfabetização e alfabetização – 1983 a 1989­), me perguntava como eu iria fazer, visto que  estava a anos dando aulas para adolescentes e adultos. Foi um desafio, estava curiosa pra saber como as crianças podiam assimilar a arte moderna e contemporânea, principalmente a contemporânea.  Montei um plano de aulas e segui. Foi perguntando aqui e acola sobre o que deveriam seguir, havia uma proposta para  os professores de arte para apresentar para as crianças?  Não. Não há nenhum plano, nenhuma linha condutora da secretaria de educação para a disciplina de arte no ensino fundamental I, ao menos foi o vazio que eu encontrei em 2010.

Fiquei maravilhada, surpresa como as crianças absorvem a arte contemporânea, como elas estão tão dentro dessa linguagem, como é instigante pra elas ver uma máquina desenhando ou uma maquina de lavar pintando ( Rebecca Horn)ou mesmo Uma projeção de um peixe dentro do carro (Willian Kendrig ) ou mesmo um desenho com restos de molho de macarrão no prato ( Vick Muniz) , varia máquinas de costura fazendo som, uma velha máquina de costura tocando violino (Silvia Mharques), enfim,... . Essa vivência com as crianças me ensinou muito e me deu muita energia pra continuar, mesmos as segas do sistema.  A sala ambiente é de fundamental valor e importância para essa atividade. O espaço pra “sujar ” é vital na vivência  do fazer criativo na arte.

Essa faixa etária é a estrutura, a fundação do sujeito, a arte é o veículo, a ferramenta para possibilidades de conhecimento de suas potencialidades.

“Quando houver todas as respostas, os questionamentos devem ser mudados”.

Somos seres em constantes transformação e o ambiente escolar e um fio condutor parta que o individuo alcance conhecimentos, produza ações, refaça, desfaça, repense, erre (supostamente), se levarmos em conta de que os erros ‘e que nos conduzem ao saber investigativo, pois o acerto ‘e a certeza muitas vezes perigosas do saber.

o que pontuo aqui é o processo, não há fim.

O ser humano é inacabado e, por tanto, eterno produtor de cultura, deixando legados ‘as gerações futuras do seu pensar, agir, viver, representar a vida na dimensão ampla em que ela, por si já é uma arte.