PRÊMIO ARTE NA ESCOLA CIDADÃ
PROJETO DE ARTE NA
ESCOLA ESTADUAL
PROF.JOSÉ CARLOS DIAS
Casa Verde – São Paulo / SP
SILVIA MHARQUES
PROCESSO DE CONCEPÇÃO
CONCEPÇÃO: Ação pela qual um ser é concebido,
gerado.
Fig. Faculdade de compreender: ter a concepção
fácil.
Conhecimento; ideia, opinião: uma concepção
original da vida.
Minha motivação está alicerçada na crença de poder e vontade como arte.
( Nietzsche)
Esta ação na Escola foi concebida no processo das minhas três exposições anteriores. Duas
coletivas e uma individual. Explico. Em
2009, a convite do atelier do centro do artista Rubens Espirito Santo,
elaboramos um projeto para exposição GESAMTKUNSTWERK – (obra de arte total) e
enviamos para o ProAc – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo – PAC
16- Programa de Ação Cultural 16 e fomos contemplados. A exposição durou dois
meses e houve muitas vivencias dentro do espaço expositivo no centro de São
Paulo. Nesta exposição, surgiu a obra Bio - instalação sonora.
Após esta exposição, o Artista Rubens Espirito Santo me
convida para fazer uma exposição individual em seu espaço expositivo no Atelier
do Centro, São Paulo.
Em agosto do mesmo ano reservo o espaço para fazer uma obra
ambiente e durante dois meses passo a morar no espaço para conviver com o fluxo
de pessoas que habita o atelier, alunos de Rubens, filhos dos alunos, meus
alunos ( neste período eu dava aula de arte na E.E. Caetano de Campos- Praça
Rooseveld- Centro). O ambiente foi se transformando até a abertura da
exposição.
Durante um mês, desenhos, pinturas, escrita sobre a vivencia
com os artistas, com as crianças e os adolescentes.
Criança pede para
fazer uma maquete e fala sobre o
que ela gostaria de expor. A maquete era a representação do próprio espaço.
Em outubro de 2009, Ricardo Resende, então diretor do Centro
de Artes Visuais FUNARTE com Esther
Góes, coordenadora da FUNARTE São Paulo, visitam o atelier do centro, como
forma de mapeamento dos ateliês do
entorno da FUNARTE e surge um convite para expormos na 2ª. Edição de Entorno de nos Limites da
arte. Lá, na galeria Mário Schenberg, ficamos três meses numa vivencia com 30 pessoas
fixas entre artistas e arte educadores. Entre outras obras que produzi lá,
tanto na ambientação do espaço como em objetos sonoros desenhos, ações. Cito aqui a obra OXIGENE.
Sendo assim, a
concepção OXIGENE + AMBIENTE teve esta
trajetória antes de se dar na Instituição educacinal publica.
OXIGENE +
AMBIENTE = ESCOLA ESTADUAL PROF. JOSÉ CARLOS DIAS
Minha atenção estava voltada para a observação do impacto que
um ambiente ( já vivido nas obras anteriores) diferente daquele rotineiro, ( no
caso sala de aula com lousa fixa, cadeiras enfileiradas, o olhar somente em um
sentido, na mesma direção) causaria no aluno e que eles, através desse olhar
comportamental fizesse uso desse ambiente e observasse em sua volta, que o
mundo vive em constante transformação, pois, o homem, ao se transformar
permite-se a experimentar novas possibilidades, tornando-se assim livre de todo
conceito imposto.
Paulo Freire, conceituado educador fala da visão de mundo e a
construção do conhecimento, através do contato com o objeto, a troca e a
interlocução entre objeto e aprendiz,
proporciona a apropriação do
conhecimento. Para Freire, a
aprendizagem veraz quando o individuo se torna critico e autônomo, isto ‘e, ele
reflete sobre a situações que o cercam e, partindo de suas reflexão, ‘e capaz
‘e capaz de tomar decisões como agente de mudança de sua realidade, no contato
em que est’a inserido. Da mesma forma na
arte, o individuo deve perceber-se parte atuante e participante dela, já que a
arte ve a vida, imitando-a, pois o artista a representa em sua diversidade criativa, registrando a vida e
seus contextos temporais, políticos, sociais, culturais. Arte também e a
cultura e ‘e construída ao longo da vida, porem não se encerra com ela.
Nesse ambiente diferente, acolhedor, intrigante, inquieto, realizei
minhas aulas fazendo com que os alunos construíssem suas opiniões, se sentindo
indivíduos participantes de uma unidade, de uma sociedade, de um mundo onde se
percebessem atuantes, compromissados e desejosos. A concepção para este
trabalho é a continuação do meu pensamento e daquilo que eu acredito como
educadora e como artista, responsabilidade social. Agambem, citado por Christiane Greiner em O
corpo em crise, me estimulou na realização
desta empreitada quando diz “ O problema hoje, explica Agambem, é que
todo dispositivo envolve um processo de
subjetivação sem o qual ele não funciona
como dispositivo de governo, mas apenas como exercício de violência. Na fase
atual do capitalismo, os dispositivos agem menos como produtores de sujeitos e
mais como acionadores de dessubjetivação. A criação de corpos dóceis que
Foucaut havia identificado transforma-se cada vez na construção de corpos
inertes. Estes são os cidadãos que executam tudo que mandam, deixando-se
controlar em todas instancias- dos
gestos cotidianos a saúde, divertimento e alimentação”.
O tema surgiu no primeiro semestre quando, ao apresentar para
as crianças artistas como Bispo do Rosário, Ligia Clark, Hélio Oiticica,
Rebecca Horn, Picasso, Jasper Jons, Robert Rrauschemberg, Jessica Stokholder, Os Gêmeos, Silvia Mharques e Rubens Espirito
Santo e outros. As crianças desejosas do fazer, tomadas pelos pensamentos dos
artistas, queriam muito executar a experiência de fazer uma obra com um artista,
colocar a mão na massa. Com tanto desejo, conseguimos uma sala (desativada, com
sucatas) e a autorização para usarmos outro espaço (também desativado) ao ar
livre.
DESENVOLVIMETO
Primeiro semestre_____________________________________________________
Músicas
Carnavália. Composição:
Carlinhos Brown, Marisa Monte E Arnaldo Antunes. Assistiram o vídeo do clip.
Explicação sobre o que é compor uma musica, letra e melodia, ensaio,
instrumentos musicais utilizados, ensaio impostação da voz. Apresentação no
pátio com todas as crianças do período.
Vai desfilar
Vem fazer
história que hoje é dia de glória
Neste lugar
Vem
comemorar, escandalizar ninguém
Vem me
namorar vou te namorar também
Vamos pra
avenida, desfilar a vida, carnavalizar
Na Portela
tem, Mocidade, Imperatriz
No Império
tem, uma vila tão feliz
Beija Flor,
meu bem, a porta-bandeira
Na Mangueira
tem morena da Tradição
Sinto a
batucada se aproximar
Estou
ensaiado para te tocar
Repique
tocou, o surdo escutou
E o meu
coração (tamborim)
Cuíca gemeu
Será que era
eu
Quando ela
passou por mim
Lá lá lá...
O gato da Madame (Armando
Nunes, Carim Mussi) e Edmundo (Joe Garland, Andy Razaf, versão Aluisio de
Oliveira) , do álbum Crooner.
Aqui exploramos, a
letra , o humor de ambas, o surrealismo, dança individual, dança em par, dança
em roda. Desenho e confecção das
maquetes referente ao assunto das letras.
·
Anexo a apostila com o conteúdo das aulas de música
Teatro
Teatro de bonecos
articulados, mamulengos, teatro de sombras, fantoche. Presentação em vídeo dos
bonecos, do teatro. Exercício: em grupo as crianças escolheram uma das
modalidades e apresentarão para a classe o seu teatro. Confecção dos bonecos,
criação dos mesmos. Criar uma história ou fazer o personagem paras histórias
que eles escolhessem, já conhecidas.
• Anexo a apostila com o conteúdo das aulas de teatro.
Desenho
• Anexo a apostila com o conteúdo das aulas de desenho.
Pintura:
Miro, Picasso,
Jasper Johnson,
Robert Rauschenberg, Rebecca Rorn, Jessica Stockholder.
Esses artistas , na historia da arte fizeram a diferença, as
passagens da pintura no quesito abordado de transformações de suporte e
materiais. Aqui , o foco principal é que as crianças entendam que a pintura se
desloca do tradicional suporte e materialidade. Houve atividades de pintura com
tinta sobre suporte papel e também pintura com objetos tanto na parede quanto
no espaço.
Segundo semestre_______________________________________________
Espaço ambiente- 1ª. Obra: agosto a dezembro
Pensar o espaço da sala, arrumando-a juntos. Onde estaria o
que e para que. Nessa etapa da arrumação, começa um sentimento de apropriação
do espaço, sendo este transformado em um ambiente construído pelas próprias
crianças. Uma instalação ambiente construída por todos. As crianças adoraram
sentar nos tapetes, a sensação de sair do lugar comum as deixava mais potentes.
Outro registro de espaço, outra ação no corpo. Algumas gostam de ouvir a aula
em pé. Algumas disputam as três cadeiras de diretor e o banco de rodinhas,
tento que saber negociar com os colegas. Na sala ambiente, que foi batizada por
eles de beco feliz, desenvolvemos atividades de teatro, artes plásticas, música,
dança projeção de vídeos de obras de artistas, e da própria produção dos
alunos, onde eu disponibilizei minha câmera fotográfica e minha filmadora para
as crianças desenvolverem atividades de imagem, tanto de fotografia quanto de vídeo. No Beco feliz
realizávamos encontros no recreio e na hora da entrada. Fizemos exposições de
pintura, desenho, modelagem. Ensinei as crianças a fotografarem suas modelagens
com fundo infinito. Houve exposição de cadernos de artistas, para eles terem
contato com o registro diário utilizado pelos artistas para ajudarem a pensar a
obra, a relação da obra com a vida, com as pessoas. As fotos e os vídeos
mostraram um pouco desta sala ambiente.
Oxigene / Zecão - 2ª obra: outubro a dezembro
Primeira etapa para a execução dessa atividade foi falar
sobre a obra, e mostra-la novamente, pois ela tinha sido mostrada as crianças
no inicio do ano. Eles ficaram eufóricos com a possibilidade de
criarem outra instalação envolvendo o espaço, só que com materiais diferentes e no espaço aberto
da escola, externo a sala.
A espera das geladeiras.
Nesta etapa as crianças tiveram como tarefa explicar a obra para a
família e se possível conseguir uma geladeira velha. Eles chegavam eufóricos nas
aulas e cheios de perguntas. Conseguimos
as geladeira no ferro velho que fica perto da escola. Algumas crianças
conseguiram geladeiras velhas, porém não havia como as trazes. Bem, chegou o dia da chegada das geladeiras.
Primeira tarefa. Olhar o material e olhar o espaço. Relacionar os dois. Onde
será montada a obra? As crianças
começaram a desenhar o espaço e a disposição das geladeiras, justificando as
escolhas. Depois desenhar em planta
baixa como cada grupo pensa em colocar as geladeiras e por quê? Nessa etapa, os
desenhos das plantas, ou seja, o pensamento dos grupos foi exposto na sala
ambiente para que todos pudessem olha-los, socializando o pensamento e
instigando os grupos a trabalharem com dedicação, pois eles queriam vencer. Foi
uma etapa difícil. Escolhemos o que a maioria desejou com o consentimento de
outros grupos. As geladeiras ocuparam o espaço de área verde da escola, onde o
chão era de terra. Em grupos, fomos arrumando o espaço. Havia um lago cheio de terra que fomos cavando
até tirarmos toda terra. Rastelamos o chão, tiramos sacos de materiais
não compatíveis com o lugar ( garrafas pet, sacos de plástico, tampinhas,
pedaços de cadeiras, etc. ) Separamos o lixo orgânico do inorgânico, falamos
sobre essa diferença, a necessidades da reciclagem, a importância dela. Os
encontros passaram a ser realizados no espaço da obra Oxigene. Primeiro artista
apresentado nesse contexto foram os do Arte Povera (significando Arte
desvencilhada com criticas do capital e do mercado) foi um movimento artístico
italiano que se desenvolveu na segunda metade da década de 60. Seus adeptos
usavam materiais de pintura não convencionais (ex.: terra, madeira e trapos).
Como exercício, as crianças utilizaram os materiais do espaço para criarem suas
obras em grupos. Foi lindo! Outro artista apresentado foi um artista alemão,
Joseph Beuys que produziu em vários meios e técnicas, incluindo escultura,
desempenho, vídeo e instalação. As crianças se identificaram com a obra Cadeira
com Gordura. Sobre essa obra há vários relatos das crianças. Beuys é considerado um dos mais influentes artistas
europeus da segunda metade do século XX. Eles construíram uma cadeira com
folhas ( no lugar da banha), fiquei surpresa, chorei. Depois foi a vez do
artista e pensador brasileiro, Rubens Espírito Santo, as crianças se
identificaram com as cabanas construídas pelo artista, a semelhança da cabana
com o espaço da sala, ambientado por eles, se identificaram com as cores e a liberdade
com que o artista cria suas obras. Como
tarefa, as crianças tinham que criar uma cabana coletiva. Muita dificuldade e
brigas. Sentávamos para conversar sobre as questões de impedimento, pois no
inicio a cabana era erguida e logo após caia, não conseguindo ficar e pé.
Potencia da obra, potencia dos matérias, errar para aprender, brigar para serem
amigos, falar o que sentem e pensam com delicadeza e educação. Falar com o
amigo olhando no olho dele, falar e
saber ouvir. Escutar o que o outro esta
dizendo. Não ter medo de errar, ó se cria fazendo, errando para acertar. E
assim, nossas aulas eram edificadas com muita conversa e pensamento. Havia
choro, brigas, sorrisos e alegria. Foi muito bonito de ver.
Estratégias educativas
Através das atividades as crianças tiveram que enfrentar
muitos problemas tanto no embate com os materiais, como nos relacionamentos. A
estratégia é utilizar as quatro linguagens artísticas para que as crianças se
deparassem com elas mesmas no relacionamento com o outo. Como enfrentar os
problemas, resolvê-los e lidar com as frustrações. A educação é para o ser que
está se desenvolvendo, não subestimando sua capacidade imaginativa para apontar
soluções.
A escuta foi uma questão abordada cotidianamente.
Implantamos regras de convivência claras e o seu cumprimento
sempre foi exigido e cumprido por eles e por mim.
Listas de verificação das atividades, nomes dos artistas
apresentados, para que o aluno se organize e tenha um exercício de memória.
Para obter atenção dos alunos: Chamar a atenção através do
tom de voz, gestos visuais ou determinados objetos como: sino, gaita, violino.
No contato visual, sempre havia um novo objeto na sala,
trazido por mim, ou por eles.
A sala ambiente também era nossa galeria, nosso espaço
expositivo. Uma vez por mês, fazíamos exposições de trabalhos, tirando moveis
dos lugares, inventando novas possibilidades para o espaço.
Produções dos alunos
Houve uma enorme produção nas quatro áreas da expressão
artística: artes plásticas ( pintura, desenho, escultura, desempenho,
fotografia e vídeo) dançam, musica e teatro.
Na pintura, iniciei o conhecimento partindo dos suportes
clássicos como papel e tela, seguindo, com a apresentação de artistas tais como
Picasso e sua trajetória, Robert Rauschenberg que leva a colagem as ultimas
consequências como pintura e a artista e
educadora Jéssica Stockholder que nos mostra a pintura expandida. A
apresentação desses artistas foi importante para as crianças entenderem que
pintura não é somente tinta no papel.
No desenho prossegui com o pensamento da pintura. Elas
produziram desenhos de observação – Leonardo Da Vinci - desenho como
importância do registro – desenhos rupestres – Produziram desenhos, pautando o
conhecimento sobre linhas, espaços, sombras etc. Com a apresentação dos
desenhos dos artistas: Joseph Beuys, Rebecca Horn, Matthew Barney, Richard Long
, o desenho sai do suporte convencional e atinge outras dimensões. A produção
foi intensa e foi bonito de ver as crianças resolvendo seus problemas na
produção, participando dos problemas dos colegas e os ajudando com suas ideias.
Havia muita discussão na produção de montagem, sempre era lançado um problema
para eles resolverem. Exemplo: fazer uma máscara com papel sem usar tesoura e
barbante, pintar sem tinta, somente com pequenos objetos colecionados numa
enorme caixa de isopor. Sempre havia exposição das produções.
Eleição das expectativas de aprendizagem e avaliação do
processo
A liberdade no processo artístico, assim como fazem em suas
brincadeiras, foi ganhando espaço e confiança, apresentando nas produções um
aprimoramento criativo. As crianças são pesquisadoras por natureza, mergulharam
em suas produções com potência e vontade de descobrimentos, o espaço
ambientando, com atmosfera de liberdade criativa e , comunicativa, fortaleceu o
processo de aprendizagem, pois tudo que fazíamos escrevíamos e era fixado na
parede, sempre retornando as aulas anteriores para prosseguir. O espaço era sagrado,
eles respeitavam o lugar pois se apropriaram dele, tinham suas
responsabilidades e deveres para com ele. O espaço livre e a ausência de
limitações são requisitos fundamentais para a permissão do experimento e do
fazer em arte.
A avaliação final dos trabalhos produzidos pelas crianças é
uma invenção dos adultos. O que acontece nas experiências estéticas é mais
amplo. A compreensão se dá por meio dos sentidos, ampliando a consciência. A
avaliação está na dedicação e concentração dos processos assistidos e
orientados pelo professor. A dificuldade no fazer e no compreender é operada
nas relações entre todos os participantes.
Quanto ao processo de aprendizagem dos alunos, valorização de
sua participação em momentos de discussão, tomadas de decisão. Descrevo os
instrumentos de avaliação e os procedimentos utilizados em todas as etapas do
projeto.
Percebo que o espaço ambientado foi fundamental para
propiciar o aprendizado. No processo de aprendizagem foi determinantemente a
minha presença dinâmica e humorada para transmitir os conhecimentos que
permitam o fluxo das atividades e do conhecimento. Nas discussões, todos
falavam na sua vez, um trabalho e tanto, pois sabemos que eles adoram falar e
não ouvir. Minha participação foi enérgica e amorosa, sempre para conseguir
lidar com as diferenças e humores. Quanto às decisões, eram tomadas em conjunto
e quando alguém errava, era explicitado, pois aprenderam que é errando que se
aprende, que só erra quem esta tentando acertar.
O instrumento de avaliação das etapas do projeto:
A avaliação sempre foi feita no processo, no dia a dia dos
encontros. Os instrumentos de avaliação foram à percepção e atenção para os
comportamentos das crianças
Segundo Canen (2001), Gandin (1995) e Luckesi (1996), a
avaliação é um julgamento sobre uma realidade concreta ou sobre uma prática, à
luz de critérios claros, estabelecidos prévia ou concomitantemente, para tomada
de decisão. Desse modo, três elementos se fazem presentes no ato de avaliar: a
realidade ou prática julgada, os padrões de referência, que dão origem aos
critérios de julgamento, e o juízo de valor.
Como foi dito, a avaliação não é um processo apenas técnico,
é um procedimento que inclui opções, escolhas, ideologias, crenças, percepções,
posições políticas e representações, que informam os critérios através dos
quais será julgada uma realidade. A avaliação do aproveitamento de alunos,
baseia-se em critérios que visem ao crescimento pessoal dos alunos, no que diz
respeito as suas atitudes, liderança, conscientização crítica e cidadã. Esses
critérios se originam de opiniões acerca do que se entende por educação, e vão
direcionar o julgamento de valor acerca do desempenho daqueles alunos.
Houve adequação dos temas transversais como Ética, Meio
ambiente, Saúde, Pluralidade cultural e Orientação sexual, sem perder o foco da
Arte como área de conhecimento
Essa adequação tem como objetivo formar um indivíduo
consciente de seus deveres e direitos dentro de uma sociedade. Exibir e falar
de arte, estar fazendo arte, ocupar o interior dela e não seu estereótipo. A
ética aqui está em deixar de ver a arte como algo externo a nós, como coisa de
fora para privilegiados e transformá-la em coisa para todos. Arte como
Materialização do pensamento e do sentimento.
Pensar arte de maneira ampla, informá-la de outras
qualidades, deixa-la se mostrar com a responsabilidade de seus direitos e seus
deveres perante a si mesma, o outro, sua comunidade e seu país. A
responsabilidade perante sua ação seja ela em apresentar um desenho, uma
pintura, a dança, etc. Cumprir com todas as etapas: pensar, fazer, apresentar,
ouvir critica e sugestões, se colocar, defender seu pensamento, assumir se
houve erro, falar sobre o erro, refizer, acertar pra si. Saúde emocional, ver o
outro, colocar-se no lugar dele, ouvir, falar, pensar, falar seu pensamento,
ter uma opinião, poder mudar de opinião, repensar. Meio ambiente ligado ao
espaço físico da escola, das salas de aula, a arquitetura da escola, de suas
casas, luz e ar são necessários, os espaços que habitam, reconhece-los,
alterá-los. A importância da reciclagem, as geladeiras e os objetos, materiais
utilizados nas atividades, na sala e fora dela. A convivência e a observação
das árvores no espaço da obra oxigenem. A importância das árvores. Os
relacionamentos entre eles, as diferenças dos gêneros, das cores. Obras de
artistas homens, de artistas mulheres, de artistas negros, de artistas
orientais e de artistas ocidentais. O que eles pensam?, Como eles retratam seus
país? Ex. Franz Krajcberg. O artista Matthew Barney, como referencia de saúde
física, utilizando a força e resistência de seu corpo para fazer desenhos em camas
elásticas e dependurado num barco, segurando-se com seus braços. Maarina
Abramovic, na performance do MoMa. Performance
minha que fiz na FUNARTE SP – café da manhã, com desenho.
“A educação em arte,
propicia o desenvolvimento do pensamento artístico que caracteriza um modo
particular de dar sentido às experiências das pessoas: por meio dele, o aluno
amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação. Aprender arte
envolve, basicamente, fazer trabalhos artísticos, apreciar e refletir sobre
eles. Envolve, também, conhecer, apreciar e refletir sobre as formas da
natureza e sobre as produções artísticas individuais e coletivas de distintas
culturas e épocas.”
“Conhecendo a arte de outras culturas, o aluno poderá
compreender a relatividade dos valores que estão enraizados nos seus modos de
pensar e agir, que pode criar um campo de sentido para a valorização do que lhe
é próprio e favorecer abertura à riqueza e à diversidade da imaginação humana.
Além disso, torna-se capaz de perceber sua realidade cotidiana mais vivamente,
reconhecendo objetos e formas que estão à sua volta, no exercício de uma
observação crítica do que existe na sua cultura, podendo criar condições para
uma qualidade de vida melhor.”
Trechos destacados dos PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS.
Houve coerência e superação, nesse projeto, pois a sala
ambientada, os materiais e a própria obra feita em conjunto cm as crianças,
escapa dos textos descritos no documento, visto que há limitações de espaço,
adequação de sala e diversidade de matérias.
Houve consistência nas estratégias de ensino. A consistência
está na qualidade da escolha dos artistas apresentados, na qualidade da formação
do professor , que se arrisca em fazer diferente, fazer o novo, fazer sem
repetir, fazer apostando, com vontade de fazer, onde a pratica do ensino da arte nas instituições publica, faz parte do trabalho
como educadora e do assunto como artista. A consistência está na vontade de
realização, na dedicação das escolhas dos materiais a serem apresentados para
os alunos, no humor, na alegria e no afeto do trato com as crianças. Os
indicadores foram estabelecidos no olhar, no cumprimento diário de cada aluno,
na forma clara e objetiva da explicação, nas constantes atuações de perguntas,
habituando as crianças a darem respostas, a se colocarem perante o grupo,
perante ela mesma. Sim, as estratégias utilizadas favoreceram em 80% a
realização dos objetivos propostos, os 20% ficaram por conta de alguns
imprevistos de impossibilidade de material e mão de obra.
Há evidencias de aquisição de novos conhecimentos do
professor, aprendo muito no convívio com as crianças, elas são livres para
criar, e se estimuladas, livres para falar, para agir ( dentro da proposta,
claro), a imaginação ganha força e é trazido um universo rico de possibilidades
para a criação, elas apresentam soluções para os problemas sem a menor timidez.
Houve conformidade com o Projeto Político-Pedagógico da
Escola, envolvimento com a comunidade do entorno, valorizando trabalhos
colaborativos e em parceria, sugerindo o reconhecimento dos direitos e deveres
cidadãos dos alunos
A escola permitiu a
utilização dos espaços e a permissão dos materiais trazidos pela professora e
pelos alunos. A família que comercializa ferro velho e que fica perto da escola
esteve presente na entrega das mesmas onde algumas crianças explicaram o projeto.
No final , na retirada das geladeiras, eles ouviram algumas crianças contarem
sobre o processo.
Houve a valorização do “Protagonismo juvenil” entendido por Antônio
Carlos Gomes da Costa como a participação das crianças em atividade que
extrapolam os âmbitos de seus interesses individuais e familiares e que podem
ter como espaço a escola, os diversos âmbitos da vida comunitária” (Costa,
1996:90) Explico: nas atividades, houveram muitas rodas de conversas, conversas que
surgiam das crianças. Criei um hábito de fazer perguntas, ora ligada ao
conhecimento apresentado, ora sobre suas dificuldades nas atividades, ora sobre
o que elas gostariam de perguntar, qualquer pergunta. Sobre essa pergunta
“livre”, o assunto em pauta era a família, os pais, as dificuldades nos
relacionamentos. Essa foi uma estratégia para conseguir trazer para o grupo,
questões individuais onde todos participavam, sugerindo atitudes, se
identificando com os problemas e fazendo ligações com as praticas do fazer,
exemplo: a dificuldade de erguer a cabana e a vitória em coloca-la em pé e
firme para as brincadeiras.
Um dos objetivos de toda essa dinâmica de ação é trabalhar de
forma que a criança seja autônoma, que consiga elaborar seu pensamento e
expressá-lo. O fato de participarem de uma obra na escola, gerou participação
das famílias pois as minhas solicitações requereram perguntas das crianças para
os pais , irmão, avós. As atividades exigiam que as crianças tomassem
iniciativas, para poderem participar, usar o material coletivo. Na obra OXIGENE
/ Zecão, as crianças, ora em grupos, ora individualmente, tinham que apresentar
uma ideia para obra e meu papel era somente de orientar questões técnicas às
vezes. Ideia, execução e avaliação feitas por eles. Eram estimulados a uma
reflexão crítica sobre o comportamento e a execução da atividade e da obra .
É importante que sejamos bons em tomar iniciativas, inventar,
ter coragem, energia e ter a mente aberta para experimentar, investigar e estar
no desconhecido. O Espaço- Ambientado e a obra OXIGENE/ Zecão, Foi um período
onde desenvolvemos o senso artístico, a compreensão da arte penetrando nela, as
crianças foram se tornando cada vez mais confiantes e alegres.
A Escola Estadual Prof. José Carlos Dias fica no bairro da
Casa Verde, é um bairro de trabalhadores de classe média, são pessoas
esforçadas , não se trata de um bairro rico, porém há uma dignidade e os pais
desejam e se esforçam para dar o melhor para seus filhos. Porem há limitações
econômicas e culturais.
Os espaços conquistados, os tapetes, as almofadas, as
cadeiras de madeira, a cômoda, as perucas, os vestidos e ternos, os colares, as
bonecas, as varias caixas de madeira, o secador de cabelo azul da dec. De 60,
massinha, madeiras, papeis, tintas e pinceis, papelão, fita adesiva colorida,
cola, sinos, teclados de piano, livros , computador, projetor de multimídia,
filmadora e maquina fotográfica, flip shart, e outros. Esses materiais designo
como didáticos, pois sua função foi:
1- Motivar e despertar o interesse dos participantes;
2- Favorecer o desenvolvimento da capacidade de observação;
3- Aproximar o participante da realidade;
4- Visualizar ou concretizar os conteúdos da aprendizagem;
5- Oferecer informações e dados;
6- Permitir a fixação da aprendizagem;
7- Ilustrar noções mais abstratas;
8- Desenvolver a experimentação concreta.
9- criar expectativas e vontade de voltar para a próxima
aula.
Houve o apoio da direção da escola para o meu trabalho, houve também interação com outros professores
e suas áreas de conhecimento. Interação
com várias áreas de conhecimento. História, português, matemática, ciências e
tecnologia.
Finalização
Bem, aqui cabe dizer que deixou saudades. Cabe dizer que
quando um trabalho se debruça na vontade de fazer, tudo flui.
Nossos encontros ( aulas) eram um eterno amanhecer, sempre
com o frescor da manhã em nossos rostos. Escrever esta finalização continua com
a fisionomia do amanhecer. Esse projeto teve como foco formar e informar as
crianças a cerca da arte contemporânea, sua origem. Questões sobre a formalidade
da obra, porque ela se alterou? De onde veio a pintura da Jessica Stokhourder,
por exemplo ou os desenhos de Richard Long.
Sensibilizar através das obras para levantar questionamentos.
Por que atores atuam no rio Tietê e não dentro do teatro?
Estimular as crianças a pensarem por si próprias,
problematizar.
Falar sobre o que pensa, dar opinião obre as obras. Falar se
gosta ou não e por que.
Exercitar e saber que
devem ser críticos, fazer frente aos desafios, descobrir, ser curioso,
inventar, propor questões , serem ativos e autônomos.
A educação envolve processos criativos, invenções para criar
um canal de comunicação entre os alunos e a arte.
Penso a arte educação com uma experiência coletiva,
levando-nos através de elos criados,
uniões, relações de sensibilização e vontade de fazer.
Este projeto direcionou os alunos para verem vários artistas,
varias obras, ampliando seu campo de referencia, não somente em relação a arte
mas também a outros campos de expressão a que eles estão submetidos cotidianamente.
Criei possibilidades de vivencias estéticas, experiências
estéticas.
Quando assumi essas aulas, em fevereiro de 2010 para crianças
tão pequenas, (embora minha formação primeira foi no magistério e eu trabalhei
7 anos com os pequenos em pré - alfabetização e alfabetização – 1983 a 1989),
me perguntava como eu iria fazer, visto que
estava a anos dando aulas para adolescentes e adultos. Foi um desafio,
estava curiosa pra saber como as crianças podiam assimilar a arte moderna e
contemporânea, principalmente a contemporânea.
Montei um plano de aulas e segui. Foi perguntando aqui e acola sobre o
que deveriam seguir, havia uma proposta para
os professores de arte para apresentar para as crianças? Não. Não há nenhum plano, nenhuma linha
condutora da secretaria de educação para a disciplina de arte no ensino
fundamental I, ao menos foi o vazio que eu encontrei em 2010.
Fiquei maravilhada, surpresa como as crianças absorvem a arte
contemporânea, como elas estão tão dentro dessa linguagem, como é instigante
pra elas ver uma máquina desenhando ou uma maquina de lavar pintando ( Rebecca
Horn)ou mesmo Uma projeção de um peixe dentro do carro (Willian Kendrig ) ou
mesmo um desenho com restos de molho de macarrão no prato ( Vick Muniz) , varia
máquinas de costura fazendo som, uma velha máquina de costura tocando violino
(Silvia Mharques), enfim,... . Essa vivência com as crianças me ensinou muito e
me deu muita energia pra continuar, mesmos as segas do sistema. A sala ambiente é de fundamental valor e importância
para essa atividade. O espaço pra “sujar ” é vital na vivência do fazer criativo na arte.
Essa faixa etária é a estrutura, a fundação do sujeito, a
arte é o veículo, a ferramenta para possibilidades de conhecimento de suas
potencialidades.
“Quando
houver todas as respostas, os questionamentos devem ser mudados”.
Somos seres
em constantes transformação e o ambiente escolar e um fio condutor parta que o
individuo alcance conhecimentos, produza ações, refaça, desfaça, repense, erre
(supostamente), se levarmos em conta de que os erros ‘e que nos conduzem ao
saber investigativo, pois o acerto ‘e a certeza muitas vezes perigosas do
saber.
o que pontuo aqui é o processo, não há fim.
O ser humano
é inacabado e, por tanto, eterno produtor de cultura, deixando legados ‘as
gerações futuras do seu pensar, agir, viver, representar a vida na dimensão
ampla em que ela, por si já é uma arte.